NOTA DE AUTORA
Carmo Vasconcelos
Queridos Leitores,
É muito gratificante ser recebida mais uma vez nos
vossos lares e nos vossos corações. E ganhar os vossos
comentários de apreço e carinho, será o melhor prémio
jamais ganho por mim através da poesia.
Nestes meus sonetos encontrarão muitos deles
imperfeitos, mas nem por isso quis desprezá-los, pois
eles foram a raiz desta difícil caminhada rumo à excelsa
flor poética,
coroa real da poesia.
Escrever um soneto é mais do que inspiração. É todo um
exercício onde a ideia se desdobra e desenvolve em
malabarismos para atingir a sincronia entre a
profundidade do tema, a palavra exacta, o tempo certo, a
beleza poética e, ao mesmo tempo, a musicalidade, a
leveza do ritmo e da melodia. Claro que esta simbiose
perfeita é apanágio dos génios. Porém, na desejada rota
da perfeição, todos devemos tentar. E só na porfia do
objectivo alcançaremos o melhor.
Estes “Meus Primeiros Sonetos” não foram mais do que a
minha modesta tentativa para, sobretudo, manter viva e acesa
esta forma sublime de poesia e, ao mesmo tempo,
homenagear a lembrança dos mestres que fizeram as delícias da minha
juventude e ainda hoje dificilmente igualados.
Nunca se sabe até onde e até quando a Palavra nos
conduz. Nós, sempre em mudança, como o Mundo que nos
rodeia. Novas formas, novos conceitos, novos rios a
desaguarem no oceano das nossas mentes, até que a voz
nos doa.
Meu desejo é que vós, queridos poetas, leiam com
benevolência e carinho estas minhas experiências
iniciáticas numa pálida
imitação dos mestres.
Para vós, com Amor
Carmo Vasconcelos
Lisboa - Portugal - Abril 2013 |
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PREFÁCIO
Humberto Rodrigues Neto
Honra-nos Carmo Vasconcelos, uma vez mais, ao
confiar-nos o fácil (ou difícil) encargo de externar
algumas considerações em torno deste “E-book”. Fácil,
pela indiscutível qualidade da poesia que compõe;
difícil, pela discutível competência que teríamos para
analisar, com pleno tirocínio, o conteúdo que ela
enfeixa neste novo livro, denominado “Sonetos
Escolhidos” – Volumes II e III, editados em 2 tomos, que
perfazem, assim e agora, a publicação de 113 sonetos,
porquanto esta poetisa já possui livro anterior com o
mesmo título.
Desnecessário se torna repisar o que a autora representa
no concerto da poesia luso-brasileira contemporânea,
tanto em suas obras impressas quanto por seu magnífico
desempenho na quase totalidade dos bons “sites” poéticos
que nos oferece, hodiernamente, a Internet.
Assim como ocorre com a maioria dos poetas, o principal
foco de sua inspiração conflui, como seria lícito
esperar, para o amor, esse rico e inesgotável filão de
quase todas as emoções que permeiam os sentimentos
humanos, muito embora os seus poemas também se voltem,
dentro da mesma qualidade e com igual intensidade
semântica, para os demais aspectos que povoam a nossa
vivência em sociedade.
Como sagaz observadora dos fatos que nos cercam, e
aplicada ao estudo das causas que lhes dão origem, Carmo
Vasconcelos também dirige as suas férteis elucubrações
para a liberdade, como veremos em “Cadeias”; para a
espiritualidade, em “Divina Sapiência”, “Divino Manto” e
“Hóspedes Indesejáveis”; para as injustiças sociais, em
"(In) Direitos Humanos", e até mesmo para a quase
lendária figura do nordestino, que recebeu de Euclides
da Cunha o apodo de “Hércules-Quasímodo” pelos
controversos aspectos de suas reações emocionais, muito
bem apanhados pela poetisa em "Baldes Vazios".
Dado o conhecimento que ela demonstra sobre os hábitos e
reações do personagem, essa composição expõe com rara
fidelidade quão dura é a vida nas áridas regiões do
agreste e quem é, sem mitos ou silogismos, esse mártir
que as habita. Vale a pena lê-lo.
É ponto pacífico que o atributo fundamental de um bom
soneto é contar com um epílogo emocionante, através do
qual o poeta encerre de modo inesperado e sugestivo o
conteúdo daquilo que expõe nos versos antecedentes.
Em Carmo Vasconcelos, entretanto, esses refinados
arranjos poéticos também emergem, a cada passo, em
muitos tercetos e quartetos de meio, os quais
propiciariam, por si só, fechos de destaque para outros
sonetos, não sendo surpresa vislumbrar-se, neles, o
rútilo lampejo de bem elaboradas metáforas, sejam nos
decassílabos, sejam nos alexandrinos.
Vejam-se, à guisa de exemplos, estas construções:
“Que desamarre a dor deste meu peito / Ao teu
aprisionado em vil degredo”; “Plasmando em dor o eco dos
teus ais”; “Ao nutrir-se de insónias no meu leito”;
“Meus nervos dana, minhas forças mina / E ao mesmo tempo
é bem que acaricia”; “Mas pede mais... Voraz, não se
contém / Devora-me alma e sangue e não fraqueja”; "Que a
aguda agulha do desejo enleia e tece"; “Sujar meus
lábios de tons rubros e profanos”; “Queimo a noite e
dormindo vou morrendo”; “Que sonha o teu beijar ao meu
unido”; “Vibra em meu seio a preciosa gema / Da poesia…
Esse fúlgido diamante!”.
E então? Caberiam ou não, tais versos, em fechos
sugestivos de outros sonetos? Isso é lindo demais, e
apenas o estro privilegiado de uns poucos poetas ousaria
engendrá-los dentro da preciosidade com que os fez a
autora.
E aqui apanhamos apenas um ou outro ao acaso, e só não
os coligimos todos para não tirar ao leitor o prazer de
degustá-los ao longo da leitura.
Mas é nos finais de seus sonetos que Carmo Vasconcelos
imprime toda a apurada técnica de seu estilo
personalíssimo, como nestes:
Pr’aqueles íntimos momentos mais ousados / Que inda
teremos numa alcova de pecados”; “Tal se o Universo no
seu todo conspirasse / e em surdo vórtice aos seus
braços me levasse”; “De raiva por de mim ter te roubado
/ Neptuno... Sem que eu tenha te abraçado"; “De mãos e
lábios sequiosos de prazer / Neste meu corpo ainda
vibrante de mulher!”;
“Sem ti seria a poeta esmorecida / A mulher de desejos
desprovida / Não me deixes, por Deus, sem teu amor!"
Chega, ou querem mais? E olhem que isso é apenas uma
ínfima parte de todos os finais surpreendentes que
encontramos neste relicário de sonetos. E outros mais
serão acrescentados em nossos comentários do próximo
volume, com os quais daremos por concluído este
prefácio.
Por ora é só, amigos. Boa leitura.
Humberto Rodrigues Neto
S. Paulo - Brasil - ano 2009 |
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PREFÁCIO EM
COMPLEMENTAÇÃO Humberto Rodrigues Neto
Rememorando a primeira parte deste prefácio, exposta no
Volume II, de “Sonetos Escolhidos”, falávamos das
excepcionais qualidades de Carmo Vasconcelos como
poetisa de primeira linha e dizíamos, ainda, tratar-se
de uma sonetista que primava por construir versos
belíssimos, não só nos versos de fecho de seus sonetos,
como, também, nos intermediários, quase nos intimando,
em certas passagens, a interromper a leitura para
degustá-los mais atentamente, tal a beleza de que se
achavam impregnados. De modo análogo, volta ela a repetir, no conteúdo deste
segundo tomo, esses quase revérberos de inspiração, os
quais reproduzimos apenas em parte, por duas razões
muito simples: primeiro, porque não caberiam todos neste
acanhado espaço; segundo, porque não seria ético, de
nossa parte, privar o leitor daquela agradável surpresa
de identificá-los ao longo da leitura. Deliciemo-nos, pois, com as seguintes passagens:
És de mim o esfaimado predador / Que me arrasta à sua
insólita voragem – Por que de vez teu sangue não
sossegas / E me insuflas paixões tão inconcretas? –
Doloridas violetas traz nos olhos, / Pelos dedos
escorrem-lhe martírios! – Eclodem os vulcões chispando
augúrios, / Clamam almas e corpos em gemidos! – Quando
envoltos em cheiros de jacintos, / Valsávamos os dois,
enamorados! – Irrompe negro o ciúme vil de um coração /
Que vinga em sangue a falsa amante desleal! – Dos ímpios
que, em sarcasmo, o Redentor/ Arrastavam, sem dó, a
crucificar!
Magníficos! Bem diferentes daqueles pseudo-sonetistas
que garatujam 13 versos insipidamente prosaicos e
conseguem fazer um soneto aceitável com apenas um verso
de efeito, fechando o conjunto. Outros há que, mais
prolixos ainda, nem isso fazem, pois ao concluirmos a
leitura do verso final vem-nos aquela frustrante
exclamação: “E daí?”, como se tivesse ficado no ar algo
que precisaria ser completado e que o autor não soube
definir por ignorar a técnica de tão sublime arte, ou
desconhecer o que significa a transcendência de um
soneto. Na acepção lata do termo, sonetos são esses que a Carmo
produz, sejam eles os formais decassílabos ou os
trabalhosos alexandrinos; apresentem-se eles no formato
tradicional ou no estilo do soneto inglês, modalidade da
qual encontraremos neste trabalho alguns exemplares,
para gáudio daqueles que ainda não os conheçam. Sonetos têm de ser bem escritos, cuidadosamente
esmerilhados, amorosamente brunidos e até mesmo
modificados, por vezes, desde o princípio até o final. E
ainda que o fecho não seja apoteótico, tais jóias
literárias sempre tocarão nossa sensibilidade pelas
construções de efeito engastadas no conteúdo geral. Se entremeados aos versos de um soneto ela nos brinda
com essas relíquias, como seriam – indagarão alguns – os
fechos com que os arremata? Não custa dar uma vista d’olhos em alguns que mais
tocaram a sensibilidade deste modesto vate. Vamos a
eles:
Só a morte rompe esse amarrado amor materno / Posto que
atado foi no céu plo Pai Eterno! – Só flores de saudade
há nos canteiros / Do árido campo da infeliz Maria! –
Que o almo olhar do Menino, em complacência, / Me
aveluda as saudades do passado! – Que longe de
espelharem o sol-posto / Luzem rubras auroras de idas
dores! – Boca sedenta dos teus beijos tentadores. – Inda
que em versos entremeados de martírios! – Do amor a
renovar-se em sintonia / Co’as leis renovadoras do
Universo! – Co’a terra, a urze, o riacho e a semente /
Deve irmanar-se ao Todo, humildemente! – Em êxtase
ascendermos ao Espaço / Uma só vez, amor! Depois morrer! Lindos demais! Soberbos, tanto na lírica suave dos
madrigais de amor, quanto na explosão emocional dos
versos de exaltação! Isso lembra Camões, Bilac, Bocage,
Vinícius e tantos outros, dos quais a autora absorveu,
com rara sagacidade, a arte de bem construir sonetos! Aí está, caros leitores, pronto para ser saboreado, mais
este portentoso volume da extensa e personalíssima obra
poética de Carmo Vasconcelos, cujos sonetos falarão,
melhor do que este improvisado e tímido analista,
daquilo que ela representa dentro do atual concerto
literário da poesia luso-brasileira.
Humberto
Rodrigues
Neto
S.
Paulo
-
Brasil
-
ano
2009
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