Meus
amigos,
Começo por dizer-lhes que é, para mim, motivo de grande
alegria o estar aqui conversando convosco. O termo
“Conferência” sempre me pareceu um tanto pomposo de mais,
embora eu já tivesse feito algumas com esse título. Prefiro,
por isso, chamar-lhe uma conversa informal e, neste caso,
“uma conversa entre amigos”.
O tema que, à primeira vista, parecerá demasiado sério e,
para alguns, até complicado, eu tentarei abordar duma forma
simplista e clara, não lhe retirando a seriedade de que se
reveste. Afinal, vida e morte são coisas sérias que, no
entanto, melhor compreendidas, se tornarão mais leves, quase
transparentes, quando melhor entendidas. Todos os
“mistérios” que ainda não explorámos se nos afiguram “um
bicho-de-sete-cabeças”, levando-nos a rejeitar à partida,
por medo, preguiça ou comodismo, um olhar sequer sobre os
mesmos.
Se escolhi este tema foi por várias razões:
1º - Porque é uma matéria sobre a qual sempre me
interroguei: Por que estamos aqui? – Donde viemos? – Para
onde vamos? – Qual o sentido da vida?
2º - Porque há mais de 25 anos, iniciei uma busca através de
várias organizações, conceitos, postulados, religiões, que
me levaram a uma súmula final que, “senti” se harmonizava
com o meu grau de inquirição, dando-me as respostas que me
assolavam a mente.
3º - Porque, sendo eu céptica, não facilmente influenciável
e não permeável a todas as crenças, credos, manipulações
ideológicas e práticas ditas esotéricas ou paranormais,
encontrei no misticismo e, especialmente, nesta Doutrina da
Reencarnação, a lógica que quase tudo me explicava e a minha
mente analítica pedia.
4º - Porque só poderia expor uma tese que me apaixonasse e
na qual eu realmente acreditasse.
Que fique claro que não pretendo aqui impôr as minhas
crenças, mas, tão só, falar delas e abrir uma janela para a
discussão de um assunto que durante muitas gerações foi tabu
e revestido de secretismo, porque não aceite pelas Religiões
Ortodoxas. Cada Organização, Ordem ou Religião tem a sua
Ontologia (Ciência do Ser) e todas elas, incluindo a que
exponho, são discutíveis, já que, cada um de nós, encontrará
a “sua verdade” dentro de si e consoante o grau de evolução
em que se encontrar nesta vivência terrena.

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“Honra
a ti, Osiris, Ó Governador dos que se encontram
no paraíso, tu que fazes renascer os mortais,
que renovas sua juventude...”
(Livro
dos Mortos do antigo Egito,
2.000 A.C.) |

A
CONSCIÊNCIA CÓSMICA DA ALMA
Para falar de Reencarnação será preciso falar
primeiro sobre a Alma. Por estranho que pareça,
ainda hoje nos deparamos com pessoas que nos
dizem: “Mas o que é isso da Alma? Simplesmente,
porque nas suas mentes materialistas, apenas
crêem no que os seus olhos podem ver. A elas, eu
costumo responder, fazendo minhas as palavras de
Shakespeare: “Há mais mistérios entre o céu e a
terra do que a vossa vã filosofia pode
imaginar”.
É costume falar-se da Alma do Homem, como se
cada um de nós tivesse no interior do seu corpo
um algo separado e distinto a que chamamos de
“Alma”, o que seria o mesmo que dizer que em
milhões de seres humanos haveria milhões de
almas. O que é profundamente errado. Existe
apenas uma Alma no Universo; a Alma de Deus, a
Consciência Vivente e Vital de Deus. Em cada Ser
vivente existe um segmento inseparável dessa
Alma Universal, e essa é a Alma do Homem, tal
como a electricidade em uma série de lâmpadas
eléctricas de um circuito não é uma porção
separada da electricidade que flui. Diremos,
pois, que cada indivíduo é uma
“personalidade-alma”, diferente e distinta, por
força dos factores externos que acompanharão a
sua vida e hão-de esculpir o seu carácter, tais
como, a hereditariedade (genes), a educação, a
instrução, o meio ambiente, etc. Portanto, Deus
está em todos nós, o que explica o dizer-se que
todos somos irmãos. E se me perguntarem o que é
Deus eu vos darei a minha concepção d’Ele: “Uma
mente universal, inteligência e poder
infinitos”. Para os místicos, existe apenas um
Deus, omnisciente, omnipresente, omnipotente,
ilimitado, e sem forma definida de manifestação.
Esse Deus que concebemos, mais cedo ou mais
tarde se manifestará naquela singular intimidade
em nosso interior. Será, pois, uma experiência
subjectiva e, desse modo, uma interpretação
pessoal. Será o Deus de nossos corações.
Voltando à Alma: Se pensarmos que em toda a
Criação se manifesta uma Lei da Dualidade, ou
Lei dos Opostos, perceptível na alternância de
Dia/Noite, Luz/Treva, Frio/Calor,
Maré-baixa/Maré-alta, etc., é compreensível que
exista também no Ser Humano essa dualidade
Corpo/Alma, ou seja, a Matéria (o corpo) e o seu
oposto Imaterial (a Alma).
E se me disserem que a matéria é destrutível (o
corpo) e a Alma é imortal, eu me permitirei
dizer, ainda, que ambos são imortais, na medida
em que, a matéria desaparece na forma, mas nunca
perece na substância, tal como dizia Lavoisier:
“Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo
se transforma”.
Muita confusão se tem gerado ao longo dos tempos
entre Alma e Espírito, como sendo uma e a mesma
coisa. Porém, e só para percebermos como ambos
são coisas distintas, dar-vos-ei aqui uma breve
síntese de “Espírito”, como sendo a essência
universal e estimulante que penetra toda a
Natureza, mesmo na matéria inconsciente
existente em todas as coisas animadas e
inanimadas (animais, plantas, minerais, etc.). É
essa essência a responsável pelas forças de
adesão e coesão (que todos nós aprendemos na
Física e que Newton explicou na sua “Lei da
Gravitação”). E digo, matéria inconsciente,
porque apenas o Homem é dotado de consciência
que, por sua vez, é um atributo da Alma.
Enquanto estes últimos (seres animados e
inanimados) possuem Espírito (portanto, conceito
diferente de Alma) não possuem, contudo,
consciência.

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“A
alma veste vários corpos em tempos diferentes e
a alma, presa ora nesta criatura, ora naquela,
assim percorre uma ronda ordenada pela
necessidade”.
(Diógenes Laércio, século I) |

A REENCARNAÇÃO DA ALMA
Ao longo dos tempos, sempre houve grande número
de pessoas a expressar vivamente a sua descrença
em certas doutrinas que não entendiam bem ou que
jamais haviam investigado. O que não é de
admirar, pois é sempre difícil aceitar-se uma
doutrina que não é compreendida e, mais, que
tenha vindo a ser popularmente deturpada. O que
pode verificar-se também (como já aconteceu em
muitas descobertas do passado), é que algumas
dessas doutrinas, princípios ou conceitos, vêm
mais tarde a tornar-se aceitáveis, pela
investigação e apurado estudo.
Quanto à doutrina ou Lei da Reencarnação, deverá
ter-se em mente que não é um credo religioso, ou
uma lei religiosa, mas sim uma lei natural do
Universo. Por outras palavras, as leis
pertinentes à Reencarnação não são mais
religiosas do que as leis que regulam a
concepção, o crescimento do embrião ou feto e o
nascimento do corpo.
O importante é que esta doutrina não começa com
a suposição, ou teoria, de que o Homem deve
encarnar-se num corpo físico e ter experiências
terrenas. A reencarnação começa com o facto de
que o Homem está encarnado num corpo físico e
está aqui, no plano terreno, tendo experiências
terrenas. Forçoso é iniciar o raciocínio com o
facto de que estamos aqui a viver num corpo
físico. Somos, pois, um Alma revestida por um
corpo físico, e não um corpo físico animado por
uma Alma.
Pondo agora de parte os antecedendes químicos e
biológicos que dão origem à formação do corpo
(dos quais não cabe aqui falar), recebe o Homem
na altura do seu nascimento e com a primeira
respiração, o “sopro de vida”. Passa então, e só
então, a ser uma alma vivente. Não foi, pois, o
corpo físico que adquiriu vida, mas sim a alma
invisível, infinita, que assumiu um corpo para
poder expressar-se no plano físico. Aqui cabe,
talvez, antecipar a resposta à pergunta que se
adivinha: o que é o “Sopro de Vida?… O Sopro de
Vida ou Alento de Vida, é uma combinação de
Força Vital e Consciência Cósmica – energia que
vitaliza o corpo no momento do nascimento e que
o abandona no momento da “morte” (a que os
místicos preferem chamar “transição”), dado que,
como já explicado atrás, não existe morte na
Natureza, mas apenas transformação. E por que
abandona essa energia o corpo aquando da
transição? Porque deve chegar o momento em que o
corpo físico, corruptível, começa a
desorganizar-se, tornando-se incapaz de reter
vida e vitalidade (sopro de vida), não mais
podendo conter a essência anímica, dando-se
então o que, incorrectamente, chamamos “morte” e
que não é mais do que uma transição. Corpo e
alma se separam, voltando cada um deles à sua
origem, o corpo aos seus elementos primários (a
terra) e a alma se elevando ao plano espiritual,
ou Cósmico, conservando o seu estado de
infinito.
Tendo em vista ser conveniente à Alma humana
passar por um certo número de sucessivos
renascimentos na Terra, a fim de aperfeiçoar o
Ego ideal, através das experiências vivenciadas,
dificuldades e provações, sabe-se que o número
de encarnações será múltiplo, porém, sem uma
duração de vida terrena definida. Também
indefinido é o tempo que medeia entre os
renascimentos sucessivos, intervalo em que essa
personalidade-alma permanece no plano cósmico a
aguardar uma nova encarnação. Destina-se esse
período a uma maior purificação, e para que o
Ego seja iluminado pela Mente Divina e sabedoria
Cósmica. Será também um período de reflexão em
que a personalidade-alma tomará consciência dos
erros cometidos na sua passagem pela Terra, com
vista a rectificar e melhorar as suas atitudes e
comportamento na próxima reencarnação. Poderá
também esse hiato ser comparado ao período de
sono do corpo físico, como um refrigério,
proporcionando-lhe um período de descanso e
regeneração das faculdades exaustas e
desgastadas. Tanto o período de duração da vida
terrena como o período de recolhimento e
reflexão no plano Cósmico variam, como é
compreensível, para cada personalidade-alma.
Findo esse retiro, dá-se início a um novo ciclo,
buscando a personalidade-alma um novo corpo
para, em uma nova encarnação, corrigir os erros
do passado, efectuar a devida compensação para
cada um deles e continuar o seu caminho, de
aperfeiçoamento e evolução, até chegar a hora do
seu aperfeiçoamento total, altura em que será,
finalmente, integrada na Divina Consciência
Cósmica, sem necessidade de mais retorno.

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“Ninguém
pode ser salvo sem renascer e sem livrar-se das
paixões que entraram no último nascimento
espiritual”.
(Hermes Trimegisto. 1.250 A.C.) |

CARMA E
EVOLUÇÃO
Incompleta ficaria esta exposição se não se
falasse da Lei do Carma (ou Karma - balança) ou
Lei da Compensação, outra das Leis Naturais que
prova a existência de uma Mente Infinita,
inspirada pelo Amor, Misericórdia e Justiça, em
todos os seus decretos. Como todas as leis
universalmente estabelecidas, esta é, também,
imutável, impessoal e imparcial, pois que a
todos nós afecta, independentemente da origem
genealógica, posição social, poder económico,
etc., fazendo com que o Homem veja através dela
um princípio de verdadeira justiça.
Não é, pois, uma Lei de vingança ou punição, mas
sim, uma Lei de compensação de débitos e
créditos cármicos. Ao ser humano foi dado o
livre arbítrio, a faculdade de escolher suas
directivas na vida. A responsabilidade é sua,
mas, aquilo que escolher deve suportar. Conforme
semear, assim há-de colher. Estamos, pois, a
todo o momento, colhendo o que semeamos.
Segundo esta Lei, a Natureza, em qualquer campo
de manifestação, exige justiça, equilíbrio e
compensação. E o Homem não pode fugir a ela. Com
ela aprende que por seus actos maléficos deve
sofrer ou pagar. Por suas acções nobres e
altruístas e seus pensamentos plenos de altos
ideais colherá recompensas equilibradas.
Esta é a Lei da Compensação, ou Carma.
Por vezes deparamos com perguntas do tipo: “Se
assim é, por que vemos tantas pessoas boas,
imbuídas de fraternidade e solidariedade,
perfilhando ideias dignas e, até, um certo
misticismo, sofrerem desaires, desgostos, saúde
debilitada, e dificuldades de toda a ordem?…
Enquanto outras, que mostram o mais profundo
desprezo pelo semelhante, egoístas e mal
intencionadas, parecem viver “num mar de rosas”,
com boas posições pessoais e sociais, boa saúde,
largueza financeira?…”
Realmente, à primeira vista, parece uma
injustiça. A resposta está em que a Lei do Carma
não actua apenas na vida actual nem numa única
encarnação. A personalidade-alma acarta consigo
ao longo das várias vivências na Terra
(encarnações), débitos e créditos cármicos que,
por vários motivos, não puderam ser compensados
nas anteriores encarnações. Não é uma Lei
punitiva e não exige “olho por olho”. O seu
único propósito é nos ensinar a lição para fazer
com que compreendamos o erro e, desse modo,
melhoremos em compreensão.
Outra ideia errada, não obstante, frequentemente
ouvida, é pensar-se que, por força do pagamento
de débitos cármicos, possa a personalidade-alma
vir a encarnar em uma forma ou corpo de um
animal inferior, como forma de punição. Esta
teoria é profundamente incompatível com as Leis
da Reencarnação e da Evolução que nos ensinam
que cada estágio é progressivo e jamais
desceremos na escala da expressão física, a
despeito do débito cármico a ser pago.
Evolução é desenvolvimento progressivo e
aperfeiçoamento de tudo o que se manifesta ou
está na concepção da Mente Cósmica. E até a
degeneração ou desintegração representa uma de
suas fases. A Lei da Evolução é, pois, outras
das Leis Naturais e todo o elemento da Natureza,
inclusive o Homem, tende para a perfeição,
tornando-se cada vez mais perfeito em suas
manifestações.
Para terminar, direi apenas que o que possamos
acreditar, ou não, a respeito das Leis Naturais
e Universais, em nada afectará os seus
princípios e o seu percurso. Outrossim, a
aceitação ou rejeição delas, se fará sentir em
nossas vidas, trazendo uma maior ou menor
felicidade, mediante a maior ou menor
compreensão das provas e problemas que ocorrerão
durante as nossas vivências, desde o nascimento
até à transição.
De todos me despeço, dando por terminada esta
conversa entre amigos, agradecendo a atenção que
me dispensaram, e a todos desejando PAZ, LUZ,
VIDA E AMOR!

(Estudos adquiridos pela autora como estudante e
membro da Ordem Rosacruz A.M.O.R.C.)
18 de Fevereiro/2005
Carmo Vasconcelos

Ensaio
publicado em:
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