
ROMPENDO AMARRAS
POESIA LIVRE
por
Carmo
Vasconcelos
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George Goodwin Kilburne
Escrevendo Com Pena Uma Carta

A TUA
MÃO
Carmo
Vasconcelos
Pedra
de sal
Maré
viva
Ferro em
brasa
Açafrão
Pimenta
branca...
É tua
mão
quando
me
afagas
Carmo
Vasconcelos
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ACORDA,
MULHER!
Carmo
Vasconcelos
Acorda,
acorda,
Mulher!
Donde
vieste?...
Porque
trouxeste
contigo
essa
alma-sonho,
árvore,
água,
pássaro,
que te
impede
de
viver?
Não vês
que não
consegues
caminhar
com ela
ao lado?
Que ela
atropela
os teus
passos?...
Soterra
essa
predadora
de
utopia,
põe-lhe
mordaça
e
algemas,
esconde-a
ou
mata-a,
se
necessário!
Depois,
caminha
sozinha,
finge
que és
apenas
corpo,
só
sensualidade
e
concupiscência,
e terás,
enfim, o
amor dos
homens!
Ama-os
como só
tu sabes
amá-los,
bebe-lhes
o sangue
e os
desejos,
sacia-lhes
a carne,
e jamais
chorarás
homem
algum!
Pois só
te
restarão
lágrimas
para
chorar
essa
alma-sonho,
árvore,
água,
pássaro,
que tu
própria
assassinaste!
Carmo
Vasconcelos |
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AMOR
ETÉREO
Carmo
Vasconcelos
Eu
queria
que
entrasses
em mim
com a
certeza
de seres
a peça
última e
impalpável
de um
intrincado
"puzzle"
há muito
começado...
Murmurando
juras de
amor
sem
articulares
palavras,
e
sentindo
emoções
desconhecidas
invadir-te
fundo a
alma.
Sem
corpo,
sem
carne,
sem
gestos...
Eu
queria
que me
chamasses
sem voz,
inspirando
sufocado
na
urgência
do
oxigénio
imprescindível,
e me
possuísses
no éter
tomado
de um
desejo
azul e
branco...
Com
gemidos
suaves
de
brisas
ondulantes
e ondas
quentes
de sóis
ignorados,
aquecendo-te
os
sentidos.
Sem
quartos,
sem
camas,
sem
horas...
Eu
queria
que
entrasses
em mim
com o
toque
mágico
do génio
que
entra
numa
tela e
faz uma
obra-prima...
Sedento
de
absoluto
e
imbuído
da
premência
de
terminares
aquela
viagem
interrompida
em busca
da
verdade
inadiável
com
destino
à
totalidade.
Sem
esperas,
sem
culpas,
sem
medos...
Carmo
Vasconcelos |
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ASCENSÃO
Carmo
Vasconcelos
Nas
caves da
memória
havia um
pássaro
que
gemia
os voos
não
voados...
Uma lira
que
chorava
os
acordes
não
tocados...
E uma
criança
enlutada
pela
utopia
soterrada
na vida
que lhe
morria.
Um anjo
pairou
e de
asas os
dotou.
De mão
dadas
voaram
aos
telhados!
A
criança
ao sol
cozeu os
sonhos
encruados.
O
pássaro
na luz
reacendeu
seus
trinados.
E a lira
banhada
da
alquimia
cor-de-rosa
da
aurora
que
despontou,
desbotou
em
Brahms,
Vivaldi
e
Chopin!
Reanimado
o trio,
de
versos e
de
verdes
se
vestiu
e de
almas
curadas,
em seus
corpos
de titã,
refulgiram
as auras
em
sincronia.
Acobardaram-se
os lutos
e as
dores,
e da
magia
das
novas
cores
um mundo
novo
surgiu
nos
telhados
da
poesia!
Carmo
Vasconcelos
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AURAS
Carmo
Vasconcelos
No
imponderável
nada da
asa
caída,
a aura
do voo
castrado.
Essa
diáfana
e
mística
aura,
em tudo
permanecente;
até no
vazio
duma
flor
decepada,
na
lacuna
dum
membro
amputado.
Similarmente,
e à
revelia
da
vontade,
essa
luminescência
etérea,
emana,
ainda,
do sonho
golpeado.
Ela
bordeja,
sutil,
mas
latente,
o vácuo
inesperado
da
ilusão
que se
extinguiu.
Incómoda
vidência
do
oculto,
quando
essa
radiância
esmaecida
cresce
em vulto
e cor,
na
reavivada
percepção
da coisa
nula!
Perene
emanação
do
idílio
que se
foi
e não
era pra
ter ido…
Apartado,
destruído!
Carmo
Vasconcelos
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CANSEI
Carmo
Vasconcelos
Cansei
de
inventar-te
à luz de
um deus
maior!
Gastei o
tempo de
limar
arestas,
encher
de risos
enegrecidas
frestas,
pintar
manhãs
numa
tela de
ocaso.
Basta de
colorir
trajectos
incolores,
ornar
canteiros
agrestes
com
cálidas
flores!
Cristalizado
o mosto
de
palavras
adoçar,
não mais
sabor a
tâmaras
em
frutos a
azedar!
Cansei
de
esperar
versos,
prosas
de amor
que não
conheces,
ceguei
meus
olhos
para não
ler nas
entrelinhas
as
palavras
ausentes
que eu
desejava
minhas.
Já não
quero
voltas
nem
reversos,
sem
pontes
afundam-se
os
caminhos,
secam as
fontes
dos
desejos.
Sem
bocas
não há
beijos,
deslaçam-se
os laços
sem
abraços.
Esgotada
a minha
fome de
pão e
vinho
doce,
comigo
fica a
seara
não
regada!
Meu
chão...
a vinha
que não
cuidaste!
Deixo-te
a
colheita
do que
semeaste!
Carmo
Vasconcelos
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CANTIGA
PARA UM
POETA
Carmo
Vasconcelos
Meu
plantador
de
versos
rama,
raízes
velhas
em mim
derrama,
deixa
que
aspire
os
galhos
verdes
que
cioso
guardas
no
canteiro
das
madrugadas!
Vem e me
chama!
Pela
manhã,
deixa
que eu
seja
beijo de
orvalho
e terra
fêmea…
Mas se
eu não
for o
teu
ensejo,
ponho
mordaça
no meu
desejo,
fico
calada,
durmo
num
canto,
choro
por ti,
do
passado
teu
longo
pranto.
Faço-me
estátua,
contemplação,
silêncio
e
sombra,
e
ouvirei
muda,
tuas
revoltas
de
desencanto.
Se me
quiseres,
musa que
borda
para ti
a
inspiração,
feita
cigana
troco-te
a sina,
da pele
mulher
te dou o
mel,
e
feiticeira
de maga
tinta,
pinto-te
trovas
sobre o
papel.
Se me
quiseres,
vem e me
ensina!
Quero
ser
nómada
no teu
deserto,
corpo de
areia a
fustigar-te
com o
meu
ardor,
oásis
certo a
céu
aberto,
refrigério,
fonte de
amor.
Abre um
pretexto
no teu
contexto,
e arma a
tenda
com
destemor,
faço-te
a cama
lisa e
rasteira,
de palha
a
esteira
cheirando
a flor.
Serei o
teu
lençol
de lua,
suave
calma do
anoitecer,
e de
mansinho,
brisa
ligeira,
fecho-te
os olhos
meu
bem-querer,
desnudo
o corpo,
e em
oferenda,
de alma
lavada,
faço-me
tua!
Carmo
Vasconcelos |
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Ouça
a gravação na voz da autora em:
http://www.antoniomiranda.com.br/musicas/musicas_index.html

Livro de Visitas
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